quarta-feira, 4 de julho de 2012

A importância da psicoterapia ou acompanhamento psicoterapêutico para pessoas com doenças crônicas

        Denominam-se doenças crônicas àquelas que precisam de um tratamento a longo prazo tais como as cardiorespiratórias, câncer, distúrbios ostemucuslares, reumatismos, diabetis, sida etc. A psicoterapia ou o acompanhamento psicológico pode auxiliar o tratamento médico que as pessoas com doenças crônicas precisam fazer, principalmente a partir do diagnóstico quando efetivamente é necessário modificar aspectos fundamentais do modo de vida.

        A psicologia dispõe de fundamentação teórica e metodológica para oferecer suporte às pessoas em sofrimento bem como para auxiliar a superação do sofrimento.
         O conceito de corporeidade parece pertinente para nortear as ações técnicas que respaldam cientificamente um diagnóstico psicológico e a intervenção no caso do(a) paciente com  um doença crônica. Para fazer-se o diagnóstico psicológico - ou compreensão psicoterapêutica como preferimos chamar em fenomenologia existencialista - faz-se mister descrever a experiência psicológica referente a doença crônica, sobretudo, no que se refere as mudanças de modo de vida como, por exemplo, administrar o consumo de cigarro ou e álcool, fazer atividades físicas, administrar a medicação adequadamente, lidar com as dificuldades que o tratamento pode implicar etc.      
        A psicoterapia se baseia no método biografico que possibilita a descrição e a compreensão da "[...] história do paciente e suas vivências que são sempre ordenadas pela sua situação." (Silveira e Carminati, 2012) Nos casos em que a questão central trata-se de uma doença crônica, além da relação que o paciente estabelece com o mundo, com os outros, com o tempo é importante dar uma atenção especial a relação com o corpo ou corporeidade.O corpo é muito mais que o fisiológico, o corpo é uma totalidade orgânica e psíquica. Somente pelo corpo podemos nos lançar a determinados projetos e não a outros. Alguns projetos como gerar um bebê, por exemplo, estão amarrados a uma certa possibilidade orgânica.
Sartre (1997, p. 292) nos diz que:



[...] é verdade que o corpo pertence à totalidade que denominamos realidade humana como uma de suas estruturas. Mas, precisamente, só é corpo do homem enquanto existe na unidade indissolúvel desta totalidade, do mesmo modo como o órgão só é orgão vivo na totalidade do organismo.

Inicialmente, é fundamental ter a concepção sobre a corporeidade para compreender a experiência particular do doente crônico. O diagnóstico psicológico é a ação do terapeuta em que ocorre a compreensão do terapeuta da condição do(a) paciente. Para que a compreensão psicoterapêutica ocorra é importante conceber o movimento dialético de exteriorização-interiorização na constituição do ser do sujeito ou personalidade que é historicamente situada. São dimensões existenciais da situação do paciente que se modificam com uma doença crônica. Temos também que levar em conta que o próprio tratamento pode envolver mudanças relevantes como a perda da mama, limitações de movimento que precisam ser recuperados etc. 
Desta forma, é importante entender que dimensões do projeto de vida do paciente foram afetadas pela doença e pelo tratamento.O acompanhamento psicológico tem como objetivo geral oferecer certo suporte psicológico. Tal suporte visa que o paciente viabilize uma perspectiva de vida satisfatória observando seu estado de saúde.
         Ainda propõe alguns objetivos específicos tais como: contribuir para a superação das tensões, angusticas, receios e preocupações associados a sua saúde; ajudar o paciente a delimitar os aspectos físicos e psíquicos da sua condição; possibilitar que o paciente localize as mudanças de sua vida em função de sua saúde; reavaliar as pesrpectivas de futuro antes da doença; observar os limites impostos pela nova condição e verificar as possibilidades atuais e futuras de realização pessoal; refletir sobre as mudanças e possibilidades da vida em família, da vida amorosa, do lazer e do trabalho; oferecer suporte e orientação sobre a adesão ao tratamento tendo em vista a qualidade de vida.

         Neste sentido, é importante considerar que o diagnóstico médico de uma doença crônica afeta a existência do paciente. Como nos disse Sartre na citação acima, um órgão só existe na totalidade de um corpo. E um corpo só existe como corporeidade, isto é, essa totalização em curso entre orgânico e psíquico. Portanto, quando se trata do sofrimento relativo ao diagnóstico médico de uma doença são as dimensões existenciais do paciente que estão em em foco no diagnóstico psicológico, isto é, certo aspecto da relação com o mundo, com o outro, com o tempo e com o próprio corpo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada - Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.


SILVEIRA, Andréa Luiza da Psicodiagnóstico: a fundamentação epistemológica entre o sistema de categorização, a fenomenologia e o existencialismo. Anais VIII Encontro Catarinense de Saúde Mental, 2009.


SILVEIRA, Andréa Luiza da; CARMINATI, Fábio. Considerações sobre a corporeidade na fenomenologia existencialista de Sartre. Cadernos de Sartre, Fortaleza/CE, v. 1, n. 4, p. 97-111,  2011.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A identidade do profissional de psicologia e o diagnóstico psicológico


Andréa Luiza da Silveira
psicóloga - CRP-12/02021
Este breve artigo tem o intuito de informar as pessoas sobre: 1) que os documentos produzidos pelo(a) profissional de psicologia exigem que haja vínculo entre o profissional e a pessoa que o procura; 2) que a produção de um documentos baseia-se em preceitos técnicos e éticos.


A atividade de diagnosticar uma problemática psicológica contempla, por um lado, o saber psicológico e, por outro lado, a identidade do(a) profissional do(a) psicólogo(a). Diagnosticar é, essencialmente, compreender a dinâmica em que o sofrimento do sujeito ocorre. Neste sentido, para além de qualquer movimento político e corporativo - seja o Ato Médico, ou qualquer outro – a atividade de diagnosticar no âmbito da psicologia é do (a) psicólogo (a).
Faz-se o diagnóstico psicológico nas várias áreas da psicologia justamente porque cada uma delas envolve o sujeito e sua dinâmica na comunidade, no hospital, no âmbiente de trabalho, e assim por diante. Mesmo no atendimento individual, as redes em que o sujeito se tece e se constitui, aparecem como parte da solução e da problemática psicológica.
Parece importante lembrar, que a atividade de diagnosticar, realizada pelo profissional de psicologia, leva algumas sessões. Para nós, tal atividade é interventiva, isto é, nas sessões destinadas a compreensão da dinâmica do sujeito o vínculo que está sendo construído entre o(a) profissional e o paciente, por si mesmo, é um agente de mudança. O ‘paciente’ é ativo no processo de se vincular e faz alguma coisa disso, em geral, para lidar com o seu sofrimento e com a dinâmica que o sustenta.
O psicólogo produz documentos como a declaração, o parecer, o atestado e o laudo psicológico. Casa um deles atende a certos fins e necessita de certos dados para serem confeccionados. Equivale dizer que, um documento desta ordem, se constói a partir da atividade profissional fundamentada na ciência psicológica.
É muito importante que a pessoa que procura o(a) psicólogo(a)  para obter um laudo, um atestado etc, saiba das implicações técnicas e éticas da produção de um documento. Apenas para exemplificar podemos citar um preceito técnico, o número de sessões vai exceder a apenas uma sessão. E um preceito ético, é que o(a) profissional vai atestar o que foi verificado. 
Pensamos que a informação adequada pode propiciar que as pessoas usufruam muito mais da psicologia como ciência e como profissão. Por isso, sugerimos que, para dirimir qualquer dúvida, se consulte a “RESOLUÇÃO CFP N.º 007/2003  que Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica.” (Conselho Federal de Psicologia - CFP, 2003).