As doenças orgânicas cujas multi-causas estão relacionadas ao trabalho tanto quanto as problemáticas de ordem
psicológica estão ligadas a organização do trabalho. Em termos gerais, o
trabalho (os trabalhadores e seus fins) está subordinado ao funcionamento da
maquinaria e/ou dos processos em função dos interesses quase exclusivos do capital. Neste
sentido, na medida em que as pessoas estão subordinadas aos objetos perdem-se
as condições para as relações humanas de reciprocidade fragilizando tanto as relações sociais quanto as condições adequadas para a segurança psicológica.
Geralmente, as queixas
relacionadas ao trabalho aparecem entre outras queixas combinadas aos demais contextos de vida. Sinteticamente, podemos afirmar que as pessoas tendem a sentirem-se inviabilizadas para realizarem o que
querem de sua vida. A fadiga, em geral, é expressa pelas seguintes queixas iniciais, acordar cansado(a), ser acometido(a) por pesadelos ou/e não
conseguir dormir etc. Isto quer dizer que uma noite de sono não tem sido suficiente
para repor as energias e, também, em muitos casos, que a noite de sono não tem sido contínua.
A continuidade do sono é importante para a saúde de pessoas, o que costumamos designar como dormir bem, pois terá implicações em como nos sentiremos ao longo dos dias. Mas, a questão central é a seguinte por que as pessoas ficam tão cansadas por causa do trabalho delas? E qual a relação desse cansaço inicial com outros problemas psicológicos?
A continuidade do sono é importante para a saúde de pessoas, o que costumamos designar como dormir bem, pois terá implicações em como nos sentiremos ao longo dos dias. Mas, a questão central é a seguinte por que as pessoas ficam tão cansadas por causa do trabalho delas? E qual a relação desse cansaço inicial com outros problemas psicológicos?
São muitas
as variáveis a serem discutidas para responder a esta pergunta complexa. Por um
lado, temos as condições sociais de vida tais como as condições de moradia, de
ida e volta ao trabalho, de alimentação etc. E, por outro lado, temos as
condições de trabalho, tais como o ritmo de trabalho, a jornada de trabalho, as
exigências de trabalho, os intervalos e pausas necessárias ao longo da jornada
de trabalho, as relações humanas no trabalho e as especificidades de
cada atividade particular.
Entretanto, parece-nos
importante, de modo geral, pensarmos sobre o cansaço no trabalho, pois ele
constitui um dos passos dos caminhos que levam a exaustão no trabalho. A
exaustão ou fadiga pode vir acompanhada pela perda da alegria no trabalho.
Desta modo, a exaustão gerada nos contextos de trabalho pode interferir nos
demais contextos da vida da pessoa até no seu ponto máximo, que é constituir
alguma psicopatologia, como por exemplo, a síndrome de burnout.
No inicio é apenas um desconforto e certa
insatisfação que podem levar a preocupações maiores até provocar insônia, por
exemplo. Algumas relações com os colegas de trabalho causam mal estar, pelas mais diversas razões, como o assédio moral por exemplo. As preocupações e dificuldades podem atingir tal grandeza que chagam a gerar ansiedade,
desagrado em estar naquele ambiente até chegar ao desejo de não estar mais ali ou de não suportar a ideia de ter que ir para o trabalho após levantar-se pela manhã. Aquelas atividades de trabalho,
corriqueiras e que antes eram prazerosas vão deixando de o ser. O que antes o
trabalhador fazia com alegria ou com facilidade passa a ser de difícil
execução. As noites de sono não são mais suficientes para o descanso. As atividades
de lazer vão perdendo o sentido e não é mais divertido estar com a família,
como os amigos etc. E assim, cada vez mais o trabalhador vai se sentindo
exausto, fatigado, sem vontade de trabalhar, de estar com a família, de estar
com os amigos. Sente vontade de dormir, de descansar, mas o fim de semana não é
suficiente. E na segunda-feira começa tudo de novo.
O trabalhador que vivência esta situação já não faz
mais diferença entre o que é problema dele e o que é problema da organização do
trabalho, das outras pessoas no trabalho, do seu contexto de vida fora do
trabalho. Confunde tudo e às vezes, sente-se culpado(a), fracassado(a) e sozinho(a). Mas, não
perde a vontade de trabalhar, gostaria de voltar a ser como antes, alegre,
ativo(a), positivo(a), mas não consegue enfrentar as exigências no trabalho que
transcendem as suas capacidades naquele momento da sua vida. Decorre daí a
perda de função do trabalho na vida da pessoa.
A psicoterapia pode
auxiliar a pessoa que vivência o esgotamento profissional. Porém, o esgotamento ou exaustão pode ser evitado desde o inicio com o auxilio da psicologia clínica. Cada um
de nós pode observar estas mudanças e ao dar-se conta delas agir para
superá-las, logo no inicio.
Entretanto, é importante lembrar que o sofrimento é vivido como individual e muitas vezes as pessoas não se dão conta do quanto seus problemas estão relacionados ao trabalho e também do quanto as outras pessoas no trabalho estão em sofrimento. Isto porque as relações de trabalho, a dinâmica do grupo de trabalho e os processos de trabalho, cada vez mais, fogem ao controle do trabalhador.
Quadro de Salvador Dalí |
Nosso objetivo então foi apenas alertar as pessoas na busca da psicoterapia que dever servir para que a pessoa
viva melhor. Entretanto, a psicoterapia é um tipo de intervenção individual e
os problemas no trabalho são coletivos e para serem resolvidos dependem também das
outras pessoas e da própria forma como o trabalho se organiza. Portanto,
modificar o contexto de trabalho deve ser uma proposta do coletivo e isto está no
campo político. Uma dica pertinente para os trabalhadores é observar quais modificações estão ocorrendo ou ocorreram no seu local de trabalho e como elas afetam cada um, singularmente, e o coletivo.
III Congresso Brasileiro de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho e o IV Simpósio Brasileiro de Psicodinâmica do Trabalho
23, 24 e 25 de Outubro de 2013 - Em Gramado - RS