domingo, 4 de agosto de 2013

Algumas considerações sobre o cansaço no trabalho

As doenças orgânicas cujas multi-causas estão relacionadas ao trabalho tanto quanto as problemáticas de ordem psicológica estão ligadas a organização do trabalho. Em termos gerais, o trabalho (os trabalhadores e seus fins) está subordinado ao funcionamento da maquinaria e/ou dos processos em função dos interesses quase exclusivos do capital. Neste sentido, na medida em que as pessoas estão subordinadas aos objetos perdem-se as condições para as relações humanas de reciprocidade fragilizando tanto as relações sociais quanto as condições adequadas para a segurança psicológica. 
Geralmente, as queixas relacionadas ao trabalho aparecem entre outras  queixas combinadas aos demais contextos de vida. Sinteticamente, podemos afirmar que as pessoas tendem a sentirem-se inviabilizadas para realizarem o que querem de sua vida. A fadiga, em geral, é expressa pelas seguintes queixas iniciais, acordar cansado(a), ser acometido(a) por pesadelos ou/e não conseguir dormir etc. Isto quer dizer que uma noite de sono não tem sido suficiente para repor as energias e, também, em muitos casos, que a noite de sono não tem sido contínua.
A continuidade do sono é importante para a saúde de pessoas, o que costumamos designar como dormir bem, pois terá implicações em como nos sentiremos ao longo dos dias. Mas, a questão central é a seguinte por que as pessoas ficam tão cansadas por causa do trabalho delas? E qual a relação desse cansaço inicial com outros problemas psicológicos?
São muitas as variáveis a serem discutidas para responder a esta pergunta complexa. Por um lado, temos as condições sociais de vida tais como as condições de moradia, de ida e volta ao trabalho, de alimentação etc. E, por outro lado, temos as condições de trabalho, tais como o ritmo de trabalho, a jornada de trabalho, as exigências de trabalho, os intervalos e pausas necessárias ao longo da jornada de trabalho, as relações humanas no trabalho e as especificidades de cada atividade particular.
Entretanto, parece-nos importante, de modo geral, pensarmos sobre o cansaço no trabalho, pois ele constitui um dos passos dos caminhos que levam a exaustão no trabalho. A exaustão ou fadiga pode vir acompanhada pela perda da alegria no trabalho. Desta modo, a exaustão gerada nos contextos de trabalho pode interferir nos demais contextos da vida da pessoa até no seu ponto máximo, que é constituir alguma psicopatologia, como por exemplo, a síndrome de burnout.
No inicio é apenas um desconforto e certa insatisfação que podem levar a preocupações maiores até provocar insônia, por exemplo. Algumas relações com os colegas de trabalho causam mal estar, pelas mais diversas razões, como o assédio moral por exemplo. As preocupações e dificuldades podem atingir tal grandeza que chagam a gerar ansiedade, desagrado em estar naquele ambiente até chegar ao desejo de não estar mais ali ou de não suportar a ideia de ter que ir para o trabalho após levantar-se pela manhã. Aquelas atividades de trabalho, corriqueiras e que antes eram prazerosas vão deixando de o ser. O que antes o trabalhador fazia com alegria ou com facilidade passa a ser de difícil execução. As noites de sono não são mais suficientes para o descanso. As atividades de lazer vão perdendo o sentido e não é mais divertido estar com a família, como os amigos etc. E assim, cada vez mais o trabalhador vai se sentindo exausto, fatigado, sem vontade de trabalhar, de estar com a família, de estar com os amigos. Sente vontade de dormir, de descansar, mas o fim de semana não é suficiente. E na segunda-feira começa tudo de novo.
O trabalhador que vivência esta situação já não faz mais diferença entre o que é problema dele e o que é problema da organização do trabalho, das outras pessoas no trabalho, do seu contexto de vida fora do trabalho. Confunde tudo e às vezes, sente-se culpado(a), fracassado(a) e sozinho(a). Mas, não perde a vontade de trabalhar, gostaria de voltar a ser como antes, alegre, ativo(a), positivo(a), mas não consegue enfrentar as exigências no trabalho que transcendem as suas capacidades naquele momento da sua vida. Decorre daí a perda de função do trabalho na vida da pessoa.
A psicoterapia pode auxiliar a pessoa que vivência o esgotamento profissional. Porém, o esgotamento ou exaustão pode ser evitado desde o inicio com o auxilio da psicologia clínica. Cada um de nós pode observar estas mudanças e ao dar-se conta delas agir para superá-las, logo no inicio.
Quadro de Salvador Dalí
Entretanto, é importante lembrar que o sofrimento é vivido como individual e muitas vezes as pessoas não se dão conta do quanto seus problemas estão relacionados ao trabalho e também do quanto as outras pessoas no trabalho estão em sofrimento. Isto porque as relações de trabalho, a dinâmica do grupo de trabalho e os processos de trabalho, cada vez mais, fogem ao controle do trabalhador.


Nosso objetivo então foi apenas alertar as pessoas na busca da psicoterapia que dever servir para que a pessoa viva melhor. Entretanto, a psicoterapia é um tipo de intervenção individual e os problemas no trabalho são coletivos e para serem resolvidos dependem também das outras pessoas e da própria forma como o trabalho se organiza. Portanto, modificar o contexto de trabalho deve ser uma proposta do coletivo e isto está no campo político. Uma dica pertinente para os trabalhadores é observar quais modificações estão ocorrendo ou ocorreram no seu local de trabalho e como elas afetam cada um, singularmente, e o coletivo.


III Congresso Brasileiro de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho e o IV Simpósio Brasileiro de Psicodinâmica do Trabalho
23, 24 e 25 de Outubro de 2013 - Em Gramado - RS