Como diz Simone de Beauvoir no seu livro Segundo Sexo ‘não se
nasce mulher tona-se mulher’. Nós, seres humanos escolhemos a nossa sexualidade
a partir das experiências e da reflexão sobre estas experiências.
As primeiras
experiências são de atração pelo que é agradável, gostoso, bonito e assim por
diante, se dão na infância. Na infância as possibilidades de experiências de
atração são amplas. Isto por que a criança não nasce com a sexualidade
definida. A criança nasce com o sexo definido (masculino ou feminino). As
experiências de atração, na infância não determinam uma escolha, mas sim, fundamentam-na.
Por um lado, existem
as experiências da criança na relação com seu próprio corpo e o corpo do outro.
Desde o primeiro momento em que ela aprende a apontar seu olho, seu nariz, seu
pé etc. Por outro lado, as experiências referentes ao afeto: reconhecer as
pessoas, lembrar delas, gostar delas, sentir saudades.
A sexualidade vai
sendo construída então, como mais um aspecto da vida de uma pessoa. As
descobertas em relação ao próprio corpo ocorrem ao longo de toda a vida humana,
ao mesmo tempo em que o corpo modifica-se também mudam as possibilidades de
viver as experiências sexuais. Por exemplo: uma mulher grávida e seu
companheiro, a sexualidade vai mudar de alguma forma, mas, sempre vai depender
do casal.
Ser mulher, ser
homem, ser uma mulher com atração por outras mulheres ou ser um homem com
atração por outros homens?! Mesmo com uma experiência de atração sexual de uma
mulher por outra, por exemplo, há um projeto de ser mulher articulados a um
desejo de ser mulher que vai definir a escolha. Isto é, apesar da experiência
de atração por uma mulher a escolha pode ser heterossexual.
Mas o que é o projeto
de ser mulher iluminado por um desejo de ser mulher? Ou um projeto de ser homem
iluminado por um desejo de ser homem? O desejo de ser é o que se almeja do
futuro: quero ser independente, quero ser
seguro, quero ser linda, quero envelhecer dignamente ... O projeto é a realização
deste desejo, isto é, quero ser sedutora então me visto como uma mulher
sedutora, tenho gestos de uma mulher sedutora etc. Mas nem sempre o desejo de
ser e o projeto de ser estão alinhados. Quero
ser um homem seguro e amoroso com minha esposa, mas, na hora de sairmos a lazer
fico emburrado e ciumento, faço ela trocar de roupa e se ela não troca fico em
casa casmurro. Neste último caso o desejo é ser seguro, mas, o projeto é de
ser ciumento, tendo como conseqüência vivenciar a insegurança.
A sexualidade não
pode ser confundida com o comportamento sexual. A sexualidade implica
experiências de atração sexual, desejo sexual e práticas sexuais relacionadas a
escolhas em dado momento da vida. O comportamento sexual refere-se exclusivamente
a práticas sexuais em determinado período histórico ou grupo. Não há nenhum
determinismo a não ser no que se refere a uma moral ou práticas compartilhadas
por um determinado grupo sempre circunscrito pela história e pela cultura. O
exemplo disto é uma nova geração que admite vivências e contratos de relação
amorosa que era improvável em épocas anteriores.
Escolher a sexualidade mais abertamente é uma possibilidade para esta geração que está aí.
É importante fazê-lo criticamente, observando o projeto de ser e o desejo de
ser.