segunda-feira, 8 de novembro de 2010

INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA

Andréa Luiza da Silveira 
Este texto, na forma de perguntas e respostas, objetiva facilitar o entendimento das pessoas sobre a psicologia e a psicoterapia. Vejo como importante divulgar que a psicologia deve oferecer às pessoas um método seguro de resolver a problemática psicológica, baseado na ciência, sendo que o paciente é ativo nesse processo. Portanto, a psicologia não disponibiliza de uma fórmula mágica para a resolução dos problemas. A resolução dos problemas é viável desde que o paciente realize os procedimentos necessários para modificá-los.


O que esperar de uma psicoterapia?
Pode-se esperar a superação do problema psicológico. O aspecto positivo da psicoterapia é que a superação ocorre com segurança, pois o psicólogo age de acordo aos preceitos éticos e científicos que regem a profissão. O paciente tem a tranquilidade de se submeter a um processo iluminado pela psicologia científica, fundamentada em estudos, pesquisas e análises.

Quem é o psicólogo?
É um profissional graduado em psicologia que é uma disciplina científica. O psicólogo, como um profissional que atua como psicoterapêuta, faz parte do Conselho Federal de Psicologia - CFP no âmbito nacional. E no âmbito regional o psicólogo faz parte do Conselho Regional de Psicologia - CRP, no caso de Santa Catarina, CRP-12. Os conselhos devem conhecer, divulgar, regular, orientar e fiscalizar a atividade profissional do psicólogo. O psicólogo deve atuar segundo os preceitos da psicologia como ciência e profissão. Qualquer pessoa pode acessar o código de ética do psicólogo via internet.

O psicólogo clínico pode dar receitas médicas ou receitar algum remédio ou substâncias como florais?
Não. O  trabalho do psicólogo é baseado em entrevistas, diagnóstico psicológico, esclarecimento da problemática psicológica e mediação para que o paciente compreenda e transponha essa problemática. O paciente é ativo no seu próprio processo de superação da sua problemática psicológica.
As técnicas psicológicas, instrumentos de medidas psicológicos e testes psicológicos que o psicólogo utiliza são avaliados e validados pelo Conselho Federal de Psicologia. Portanto, o psicólogo está habilitado a empregar tais técnicas e testes para diagnosticar e intervir com segurança para a transposição do problema psicológico.
O que é psicoterapia?
A psicoterapia é um conjunto de técnicas psicológicas fundamentadas por uma teoria psicológica. Uma teoria psicológica é desenvolvida a partir de estudos teóricos, pesquisas e de análises reflexivas sobre a prática da psicologia. Esta prática da psicologia tanto ocorre nas instituições como escolas, hospitais, empresas, como no consultório de psicologia. A psicologia clínica é uma das áreas de atuação do psicólogo. E a psicoterapia é uma das possibilidades de atuação do psicólogo dentro da área da psicologia clínica.

O que faz o psicólogo no processo psicoterapêutico?
Desenvolve seu trabalho para mediar a pessoa na superação de seu problema psicológico. Na psicoterapia um relacionamento se estabelece  entre o psicólogo e o paciente. Esta relação envolve um processo que tem inicio, meio e fim. Parte de problemas trazidos pelo paciente e finda com a superação destes problemas. Mas, para se atingir tais fins, isto é, a superação dos problemas sofridos pelo paciente, é necessario o comprometimento no processo psicoterapêutico tanto por parte do psicólogo como por parte do paciente.
Qual o compromisso do psicólogo?
O compromisso do psicólogo é atuar de acordo aos preceitos da psicologia como ciência e profissão. Agir de acordo a ética profissional e a fundamentação teórica e metodológica da psicologia.
Quais compromissos que o paciente tem com o seu processo psicoterapêutico?
O compromisso básico de ambas as partes é estarem presentes nos horários e dias marcados. É preciso haver continuidade das sessões, de acordo com o que foi combinado entre o psicólogo e o paciente. Isto porque a psicoterapia é um processo conduzido pelo psicólogo para atingir os fins que o paciente trouxe. A psicoterapia é um processo, e como tal, é continuo e leva algum tempo. Além de ser um processo, a psicoterapia envolve ações do paciente para viabilizar a superação do seu problema psicológico, portanto, é um processo ativo, em que o paciente deve estar comprometido, disposto a agir para modificar o contexto do seu sofrimento.

É possível transpor o problema psicológico?
Sim é possível. É possível superar um processo depressívo, a tristeza, a fadiga, a timidez ou as dificuldades de relacionamento etc. O objetivo geral de qualquer processo psicoterapêutico é a superação do problema trazido pelo paciente. Mas os objetivos de cada paciente são diferentes e devem ser esclarecidos. Para se esclarecer os objetivos, ou seja, para onde e como o paciente deseja se encaminhar, é importante realizar um diagnóstico que configura a problemática do paciente. Esta fase inicial do processo psicoterapêutico resulta na compreensão do paciente sobre a sua problemática. Mas, algumas ações já devem ter sido encaminhadas para a superação desta problemática que envolve certo sofrimento do paciente.

O psicólogo vai dizer o que o que o paciente deve fazer?
Não. O paciente encontra segurança para fazer suas próprias escolhas críticas mediante a análise reflexiva de sua própria história e o mapeamento de suas possibilidades frente a um campo de possíveis. Assim, o paciente reflete sobre suas experiências para orientar seu projeto de ser realizando o seu desejo de ser.

O psicólogo só trabalha em função de uma problemática psicológica?
Sim. Entretanto existem situações de dúvida em relação a carreira, por exemplo, em que a pessoa se encontra perante várias possibilidades e precisa escolher. Mas, apesar de ser uma situação positiva, em que a pessoa não se encontra em sofrimento, ela precisa de auxilio para refletir. Então, o psicólogo pode desenvolver com a pessoa uma orientação profissional - no caso de escolha da carreira, re-orientação profissional - no caso da pessoa estar atuando profissionalmente mas desejar rever algumas escolhas.

A psicoterapia tem um fim?
Sim. O próprio paciente vai identificando, ao longo do processo psicoterapêutico, as suas conquistas e realizações. Neste sentido, o paciente mesmo verifica que o processo psicoterapêutico está findando, pois ele próprio entende que superou a problemática psicológica que o levou à psicoterapia.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saúde, Família e Comunidade

Andréa Luiza da Silveira

Este texto foi publicado na Folha de Coqueiros edição de julho. A Folha de Coqueiros é um jornal publicado em Floriaópolis/SC.


A saúde, como rege a Constituição Federal, é direito de todos e dever do Estado. Entretanto, para que isso possa ocorrer, é importante perguntar: o que entendemos por saúde?
A saúde, além do bem estar psicológico e físico das pessoas, envolve a totalidade de suas condições de vida. Ela refere-se às condições adequadas de trabalho, moradia, meio ambiente, saneamento básico, renda, educação, transporte, lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais a vida, isto é, a saúde passa pela organização social e econômica do nosso país. Mas, como isto se realiza na prática?
No Brasil, nós temos o Sistema Único de Saúde - SUS - cujas portas de entrada são as Unidades Básicas de Saúde, também conhecidas como postos de saúde. Estas unidades estão destinadas a oferecer ações em saúde a determinado território. Nelas atuam, geralmente, equipes de Saúde da Família. Atualmente, o foco da atenção em saúde é a família. Assim, temos uma proposta de saúde implementada através da constituição de 1988 que nos leva a pensar na relação entre saúde, família e comunidade, tendo visto que a atual política nacional de saúde prioriza a saúde da família.
A Estratégia da Saúde da Família implica uma abordagem comunitária, em que os profissionais de saúde vão até os locais de moradia e convivência, buscando a promoção, a prevenção e encaminhando a reabilitação da saúde. Na contramão do individualismo em que as pessoas estão cada vez mais isoladas, a política de estado da saúde fomenta o que é importante para o coletivo.
Há, então, uma política de saúde, resguardada pela Constituição Federal, que prima pelo bem comum. Um dos aspectos da promoção da saúde é a viabilização da atividade física. Neste sentido, é muito importante o estabelecimento de espaços públicos como praças, parques, ciclovias etc. Do ponto de vista da psicologia, a convivência nos espaços públicos também beneficia a saúde mental. Essa convivência diminui a solidão, que é uma das principais causas do problema psicológico - loucura ou doença mental -, pois coloca para as pessoas a possibilidade de realizar-se junto com os outros.
Os espaços para a prática de esportes, para caminhar e pedalar, permitem o encontro entre as pessoas. As atividades que integram a comunidade e a família na comunidade abrem um campo de possibilidades de bons encontros. Nestes encontros realizam-se sonhos políticos, artísticos, profissionais, intelectuais e afetivos em que as pessoas acham em outras apoio e mediação. Esses encontros criam solidariedades e permitem compartilhar projetos e ser com o outro. E não contra o outro, como ocorre quando imperam o individualismo, a competitividade, a sede de poder e sucesso e a posse do outro. Portanto, as ações que revelam valores que servem para unir devem ser muito mais viabilizadas do que aquelas que servem apenas para separar.
O que é saúde? Ë o bem estar físico, psíquico e social, como define a Organização Mundial de Saúde – OMS. Mas, também, saúde é conquistar um ambiente de trabalho, lazer, moradia, educação e transporte adequado a uma vida com dignidade. E relações humanas em que as pessoas possam estar com as outras sentindo-se seguras e confiantes. Ora, não podemos esperar que uma sociedade fragmentada seja constituída por famílias bem estruturadas. Existem problemas na família tanto quanto no seu entorno. Se precisamos resolver os problemas no seio das famílias é por que temos muitas questões de ordem social a resolver.
Em nosso bairro temos espaços públicos de convivência e atividade física constituídos muito raros de se ver na maioria dos bairros da cidade. Certamente, manter e preservar o espaço público de bons encontros é uma forma de promover a saúde das pessoas. Vamos preservar o que temos e, quem sabe, ampliar!



sábado, 6 de março de 2010

ESBOÇO DA METODOLOGIA DA PSICOTERAPIA EXISTENCIALISTA

Andréa Luiza da Silveira


Psicoterapia é um conjunto de procedimentos técnicos teoricamente fundamentados. A psicoterapia se inicia no primeiro encontro entre psicólogo e paciente. Nas primeiras sessões de psicoterapia, quando ocorrem as entrevistas iniciais, o psicólogo realiza o diagnóstico. O diagnóstico parte dos motivos pelos quais o paciente procura psicoterapia e finaliza com o esclarecimento sobre a dinâmica de personalidade do paciente, sobretudo, os aspectos que inviabilizam a realização de seu desejo de ser.
O processo psicoterapêutico possibilita que o paciente se localize frente os aspectos da sua dinâmica de personalidade que lhe inviabilizam e assim, pode modificar o seu projeto de ser. O processo psicoterapêutico comporta também orientação para que o paciente consiga agir para modificar a figura do mundo, isto é, transformar sua realidade e a situação que o faz sofrer. A psicoterapia ajuda a pessoa a encontrar os meios para agir e modificar sua realidade.
O objetivo da psicoterapia é que o paciente possa agir para modificar elementos da situação mais também modificar-se. Para chegar a este ponto é preciso primeiramente, delimitar o problema e ter claro quais são as dimensões em que as suas dificuldades aparecem, no amor, trabalho, estudos e família.
Neste ponto do processo psicoterapêutico delimita-se as qualidades, estados e ações que inviabilizam o paciente. É a fase da psicoterapia em que o paciente verifica as suas características que contribuem para a ocorrência dos problemas detectados no primeiro momento: timidez, apatia frente a situações que se repetem, não lembra das coisas, espontaneidade, falta de concentração, depressão etc.
É necessário descrever as situações em que as dificuldades ocorrem, sempre em função do futuro almejado. A descrição é a técnica mais importante da intervenção terapêutica e abarca o tempo (passado, presente e futuro), o mundo (organização sociopolítica das coisas), os outros e o corpo.
Os temas na descrição abarcam:
1.O Tempo - quando se iniciou o motivo que o fez procurar a psicoterapia, ocorrências históricas significativas da vida pessoal, como é organizado o dia/horas, antecipações, em função de que antecipou, mudar e resolver impasses para que futuro, como as situações problema revelam uma perspectiva de futuro que não é o almejado.
2. O Mundo - a organização sócio política do seu espaço físico.
3. O Corpo – como está sendo vivenciada fisiologicamente as situações problema: tremor, dor, lágrimas, músculos tesos. Em distúrbios alimentares verifica-se como ocorre a insatisfação com o corpo, o corpo almejado etc.
4. Os Outros – com quem, quantas pessoas, quem são, quem é, a importâncias desta (s) pessoa na sua vida.
Finalmente é possível localizar os aspectos psicológicos na situação e a experimentação psicofísica mediante certas escolhas e reflexões. Desta forma o paciente pode compreender a situação problema, encontrar soluções possíveis e modificar o seu futuro. Na ação o paciente reconhece uma falta objetiva, ou seja, a recorrência em que as dificuldades aparecem na relação com determinadas pessoas ou/e coisas. Localizando-se disso pode propor para si e para as pessoas mais importantes de sua vida novas atividades, melhoras na atividade atual, formas de realizar a relação com a família, com os amigos, com o trabalho. Portanto, o paciente lança e conquista para si um futuro mais gratificante.


Referência Bibliográfica

SARTRE, J. P. Esboço de uma Teoria das Emoções. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
_________. O Existencialismo é um Humanismo. Coleção Os Pensadores. 3ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
_________. A Transcendência do Ego. Lisboa: Colibri, 1994.
_________. O Imaginário: psicologia fenomenológica da imaginação. São Paulo: Ática, 1996.
_________. O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1997.
_________. Crítica da Razão Dialética. Petrópolis: Vozes, 2001
SCHNEIDER, Daniela. Novas perspectivas para a psicologia clínica: um estudo a partir da obra "Saint Genet: comédien et martyr" de Jean-Paul Sartre. Tese de Doutorado. São Paulo: PUC/SP, 2002.
SZASZ, T. A Fabricação da Loucura. 3ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
_________ . O Mito da Doença Mental. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
VAN DEN BERG, J. H. O Paciente Psiquiátrico: esboço de psicopatologia fenomenológico. São Paulo: Mestre Jou, 1981.