segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Saúde, Família e Comunidade

Andréa Luiza da Silveira

Este texto foi publicado na Folha de Coqueiros edição de julho. A Folha de Coqueiros é um jornal publicado em Floriaópolis/SC.


A saúde, como rege a Constituição Federal, é direito de todos e dever do Estado. Entretanto, para que isso possa ocorrer, é importante perguntar: o que entendemos por saúde?
A saúde, além do bem estar psicológico e físico das pessoas, envolve a totalidade de suas condições de vida. Ela refere-se às condições adequadas de trabalho, moradia, meio ambiente, saneamento básico, renda, educação, transporte, lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais a vida, isto é, a saúde passa pela organização social e econômica do nosso país. Mas, como isto se realiza na prática?
No Brasil, nós temos o Sistema Único de Saúde - SUS - cujas portas de entrada são as Unidades Básicas de Saúde, também conhecidas como postos de saúde. Estas unidades estão destinadas a oferecer ações em saúde a determinado território. Nelas atuam, geralmente, equipes de Saúde da Família. Atualmente, o foco da atenção em saúde é a família. Assim, temos uma proposta de saúde implementada através da constituição de 1988 que nos leva a pensar na relação entre saúde, família e comunidade, tendo visto que a atual política nacional de saúde prioriza a saúde da família.
A Estratégia da Saúde da Família implica uma abordagem comunitária, em que os profissionais de saúde vão até os locais de moradia e convivência, buscando a promoção, a prevenção e encaminhando a reabilitação da saúde. Na contramão do individualismo em que as pessoas estão cada vez mais isoladas, a política de estado da saúde fomenta o que é importante para o coletivo.
Há, então, uma política de saúde, resguardada pela Constituição Federal, que prima pelo bem comum. Um dos aspectos da promoção da saúde é a viabilização da atividade física. Neste sentido, é muito importante o estabelecimento de espaços públicos como praças, parques, ciclovias etc. Do ponto de vista da psicologia, a convivência nos espaços públicos também beneficia a saúde mental. Essa convivência diminui a solidão, que é uma das principais causas do problema psicológico - loucura ou doença mental -, pois coloca para as pessoas a possibilidade de realizar-se junto com os outros.
Os espaços para a prática de esportes, para caminhar e pedalar, permitem o encontro entre as pessoas. As atividades que integram a comunidade e a família na comunidade abrem um campo de possibilidades de bons encontros. Nestes encontros realizam-se sonhos políticos, artísticos, profissionais, intelectuais e afetivos em que as pessoas acham em outras apoio e mediação. Esses encontros criam solidariedades e permitem compartilhar projetos e ser com o outro. E não contra o outro, como ocorre quando imperam o individualismo, a competitividade, a sede de poder e sucesso e a posse do outro. Portanto, as ações que revelam valores que servem para unir devem ser muito mais viabilizadas do que aquelas que servem apenas para separar.
O que é saúde? Ë o bem estar físico, psíquico e social, como define a Organização Mundial de Saúde – OMS. Mas, também, saúde é conquistar um ambiente de trabalho, lazer, moradia, educação e transporte adequado a uma vida com dignidade. E relações humanas em que as pessoas possam estar com as outras sentindo-se seguras e confiantes. Ora, não podemos esperar que uma sociedade fragmentada seja constituída por famílias bem estruturadas. Existem problemas na família tanto quanto no seu entorno. Se precisamos resolver os problemas no seio das famílias é por que temos muitas questões de ordem social a resolver.
Em nosso bairro temos espaços públicos de convivência e atividade física constituídos muito raros de se ver na maioria dos bairros da cidade. Certamente, manter e preservar o espaço público de bons encontros é uma forma de promover a saúde das pessoas. Vamos preservar o que temos e, quem sabe, ampliar!